11 questões do Enem que nossos congressistas não saberiam responder

QUESTOES NOSSOS

O ENEM surpreendeu muita gente por ter trazido para discussão temáticas importantíssimas. Nada repercutiu mais que o sensacional tema da redação (“A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”) e a questão que citava Simone de Beauvoir. Mas além de botar 7 milhões de pessoas para pensar o machismo da nossa sociedade, a prova trouxe reflexões sobre proteção ao meio ambiente, respeito às culturas tradicionais, alteridade, importância dos movimentos sociais, democracia, entre outros assuntos.

Já pensou se nossos congressistas fizessem a prova? Bolsonaro e Feliciano já deram indícios que não teriam a menor capacidade de escrever a redação. Mas e o resto? Que outros assuntos deixariam, por exemplo, as bancadas do Boi e da Bíblia perdidas?

1.AS QUESTÕES SOBRE FEMINISMO E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A redação já foi bastante debatida e a questão sobre Simone de Beauvoir e a luta pela igualdade de gênero também repercutiu. Mas sabia que uma outra questão falava de violência contra a mulher? Foi na prova de espanhol. Um texto intitulado “En el día del amor, no a la violencia contra la mujer!” traz dados aterrorizantes sobre o tema. Nesse momento, Bolsonaro, Feliciano e Cunha, autor do PL que impede atendimento a mulheres vítimas de violência no SUS, tremeriam na cadeira. Afinal, parece que desconhecem a realidade de uma sociedade machista.

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2. A QUESTÃO SOBRE O FASCISMO

Uma das questões do Enem falava que o fascismo era uma “forma de hegemonia ainda mais perigosa” que o imperialismo, caracterizado pela “adoção do determinismo biológico”. Sem chances para Bolsonaro, que ainda precisa entender o que é o fascismo e o que ele vem alimentando com suas tristes declarações.

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3. AS QUESTÕES SOBRE NEGROS E AFRICANOS

O poema Voz do Sangue, do pan-africanista Agostinho Neto, que conclama “as populações negras de diferentes países a apoiar as lutas por igualdade e independência” e a música Yaô (de Pixinguinha), com trechos no idioma iorubá, apareceram no exame para desespero de Feliciano e a bancada da Bíblia e daqueles congressistas que perseguem as manifestações culturais africanas. Aliás, o preconceito e a ignorância se manifestaram pela internet. Circula por aí uma imagem da segunda questão riscada, com os dizeres “Macumba” e “Não respondi. Tá repreendido em nome de Deus”. Tá lembrado do PL da ~Cristofobia~, de Rogério Rosso (PSD-DF) e do Estatuto da ~Liberdade Religiosa~, proposto por Leonardo Quintão (PMDB-MG)?

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4. A QUESTÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

O PL do Terrorismo abre brechas para a repressão de manifestações sociais legítimas. Então imagina se o relator do PL, Aloysio Nunes (PSDB-SP) tem que responder à seguinte questão no Enem: “No processo da redemocratização brasileira, os novos movimentos sociais contribuíram para…”? Será que o senador responderia certo, afirmando que eles contribuíram para “tornar a democracia um valor social que ultrapassa os momentos eleitorais”?

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5. A QUESTÃO SOBRE REFORMA POLÍTICA E COMBATE À FRAUDE NAS ELEIÇÕES

Essa ficou difícil para Aécio. Será que ele sabe que a Justiça Eleitoral foi criada para combater fraudes sistemáticas nas apurações? O sistema eleitoral brasileiro é referência mundial em segurança e inviolabilidade. Mas Aécio ainda não aceita o resultado das urnas.

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 6. A QUESTÃO SOBRE OS POVOS DA AMAZÔNIA

Problemas para a Bancada do Boi! O que os defensores da PEC 215 (que reduz os direitos indígenas e muda demarcação de terras) responderiam quando perguntados sobre o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia e a valorização das identidades coletivas?

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7. A QUESTÃO SOBRE AGROTÓXICOS

Outra questão complicada pra Bancada do Boi: uma tirinha debate as consequências dos agrotóxicos para nossa saúde e critica o processo produtivo agrícola brasileiro. Mas será que a bancada ruralista já pensou sobre isso?

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8. A QUESTÃO SOBRE A CRISE GLOBAL

Uma das questões do Enem explica que crises que parecem restritas podem tomar proporções globais graças à interdependência do sistema econômico. Assim, uma crise em determinada economia pode afetar outras. Pois – surpresa! – o Brasil também sofre as consequências disso. Mas Serra e Aécio insistem em ver a crise econômica brasileira como algo isolado. E aí, será que eles (e toda a oposição conservadora) saberiam responder essa questão?

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9. A QUESTÃO SOBRE A CRISE HÍDRICA

Tá bem, Alckmin não é congressista, mas abrimos uma exceção para imaginarmos o que o governador paulista pensaria assim que visse “crise de água” na prova do Enem.

Brasília - O governador de São Paulo, Geraldo Alckimim, participa do Seminário Nacional sobre Aplicação de Medidas Socioeducativas a Adolescentes Infratores, na Câmara dos Deputados

10. A QUESTÃO SOBRE ACESSO À INFORMAÇÃO

E imagine então se Alckmin saberia responder que “para o cidadão formar sua opinião, ele deve ter acesso à informação”?  Quem esconde informações sobre a falta de água, o metrô e a PM sabe disso?

11. AS QUESTÕES PARA PENSAR A ALTERIDADE

Por fim, essas questões fariam dezenas de congressistas quebrarem a cabeça. Será que as Bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala sabem o que é alteridade? Alteridade é a capacidade de compreender as diferenças e direitos de todos, de se colocar no lugar do outro. O Enem trouxe isso em várias questões, mas vamos destacar aqui três: um relato do século XVI que mostra o desrespeito à cultura indígena (ainda presente); a valorização das narrativas orais indígenas; e o respeito à produção artística de todas as sociedades.

Em resumo, todo esse debate é um pouco sobre isso: vamos praticar a alteridade, congressistas?

Em uma semana de bombas e linchamentos, o caso Caio Coutinho mostra a força da mobilização popular contra a violência #FascistasNãoPassarão

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Você conhece Caio Coutinho? Ele é um estudante baiano de 20 anos que mora em Salvador. Ontem, como milhares de jovens negros, ele se tornou vítima de racismo institucional e de violência policial. A história de Caio poderia ter acabado como a de tantos outros jovens negros: em mais violência, espancamento e até em homicídio. Mas não terminou.

Caio atravessava a rua na faixa de pedestres quando um carro acelerou. Sem saber com quem lidava, pois o veículo não tinha identificação, o rapaz ergueu os braços como quem questiona “vai me atropelar?”. Como é negro e pobre, foi motivo suficiente para que os agentes da Polícia Civil, que estavam no veículo, revistassem o estudante por diversas vezes, batessem nele, tomassem o seu celular e quisessem levá-lo preso por desacato.

Mas a população presente não endossou o ódio, o racismo e a violência. Mais de 100 pessoas — comerciantes locais, transeuntes e estudantes de um cursinho pré-vestibular — intervieram contra o abuso de poder dos policiais. Puxaram Caio para dentro do prédio do cursinho e impediram que a polícia o levasse. Sem a mobilização popular… bom, sabemos bem como parte da polícia costuma tratar cidadãos negros e pobres longe dos holofotes. (Em tempo, vale a leitura de reportagem da Pública mostrando como policiais da Rota usam técnicas de tortura para interrogar seus suspeitos).

Segundo o delegado responsável pelo caso, os policiais militares que levaram o rapaz para a delegacia posteriormente alegaram que Caio “chamou para a briga”, como um desentendimento bobo de colégio, que poderia terminar de maneira trágica, porque Caio afrontou a autoridade daqueles que se acham os donos do mundo.

Ainda vestindo o uniforme do colégio, o estudante foi liberado sem ficha. Graças à ação de desconhecidos, a vida de Caio não terminou de maneira “desconhecida”, como acontece com muita gente que cruza o caminho da polícia.

A pergunta que fica é: se Caio fosse branco, de classe média, o tratamento seria o mesmo? Com certeza, não. Se a população não tivesse se mobilizado contra o ódio, o desfecho teria sido o mesmo? Com certeza, não.

Por menos Amarildos. Por menos Valdir Gabrieles — o homem linchado até a morte no RS no início da semana. Por menos atentados a bomba. Por mais multidões que escolham o caminho da democracia, do respeito e da cidadania.

#FascistasRacistasNãoPassarão