A Folha de S.Paulo divulgou em sua capa uma pesquisa a respeito do cenário político atual. Acontece que os entrevistados são apenas os próprios leitores do jornal. Assim, os dados tendem a não refletir a real opinião da população brasileira, uma vez que os perfis dos dois públicos são bastante diferentes. Dessa maneira, a pesquisa pouco contribui para o aprofundamento do debate e acaba por alimentar um sentimento golpista, que não encontra sustentação em acusações formais.
Um dos pontos essenciais a se destacar quanto à pesquisa é o perfil do público entrevistado. O dados mais importante é que 59% dos leitores da Folha votaram em Aécio Neves no segundo turno, enquanto apenas 22% escolheram Dilma. Metade dos entrevistados tem renda familiar mensal superior a dez salários mínimos, 76% têm ensino superior e 83% são da região Sudeste. Os dados contrastam com a realidade brasileira. Se considerarmos que o rendimento familiar mensal do brasileiro é de 5,32 salários mínimos, que somente 10,8% dos brasileiros têm ensino superior completo e que apenas 41,9% dos brasileiros estão na região Sudeste fica evidente que o perfil do entrevistado está distante do brasileiro médio.
Mesmo assim, o resultado do levantamento – feito pelo Datafolha com 733 leitores do jornal nos dias 18 e 19 de setembro e 2 e 3 de outubro, com ENORME margem de erro de 4 pontos para mais ou para menos – mostra que a crença na efetivação do impeachment é menor do que a Folha gostaria. Enquanto 51% dos entrevistados defendem que a Câmara dos Deputados deveria abrir um processo de impeachment, 37% acham que Dilma será de fato afastada. Já a renúncia da presidenta é defendida por 61% dos leitores de Folha . Obviamente, o jornal optou por destacar o último número em suas manchetes.
Para que serviria, então, uma matéria como esta? Ela parece apenas refletir aquilo que já se sabe: o desejo do impeachment parte majoritariamente de uma elite, especialmente aquela que votou em Aécio Neves. Mais que isso, ela inflama golpistas que, ainda que não acreditem que Dilma será afastada, visto que não há sustentação para tal, acham que a Câmara deve entrar com o processo. Esta matéria serve para colocar o impeachment como manchete de jornal – por mais artificial que ele seja.